Estas são minhas impressões sobre o Observatório Socioambiental Fora do Eixo. Digo “impressões” menos em um sentido de opinião e mais de registro, do que retive do evento. Quanto ao que eu acho, basta dizer que foi um encontro bastante revelador e animador (apesar do tema sempre levar-nos a encontrar fatos pouco positivos), no sentido de sugerir novas possibilidades de pensamento e trabalho para a sociedade e o mundo em que viemos a viver.
O palestrante foi Sandro Tonso, que trabalha com educação ambiental, é professor na Unicamp e arquiteto por formação. Sua fala foi transmitida do MIS (Museu de Imagem e Som de Campinas, aliás um lugar muito bonito, de funcionários extremamente amigáveis ) via streaming pela Sala do Observatório Fora do Eixo. A produção local foi do coletivo Ajuntaê, de Campinas, que é integrado ao Circuito Fora do Eixo, mas a iniciativa é mais ampla, partindo do Núcleo de Sustentabilidade do FdE.
A ideia principal abordada por Sandro foi justamente a que nomeia o evento: o termo “socioambiental”. Segundo ele, é fundamental que a palavra a nortear o debate como um todo seja essa, por ser impossível dissociar as questões ambientais das sociais (e estas das econômicas, e assim por diante). Alguns exemplos são difíceis de separar objetivamente entre problemas ambientais ou sociais. O aterro sanitário, terreno baldio contendo todo o lixo da cidade, mas também várias pessoas que extraem de lá trabalho e/ou alimento; o cidadão que atira lixo da janela do carro, contente em se livrar de um objeto e não se importando ou identificando com o lugar em que vive (ou mesmo justificando esse ato com a ideia de “dar emprego” a quem lhe limpe a sujeira). O cidadão contemporâneo, que pondera sobre ter ou não uma árvore na frente de casa: considera-se a qualidade de vida que as árvores proporcionam à cidade, mas também que as folhas da árvore, se não forem recolhidas, podem favorecer uma enchente – e mais ainda: quanto mais este cidadão trabalha e se expõe diariamente, por exemplo, ao longo stress do trânsito, menos quer ter em casa qualquer tarefa como recolher as folhas de sua árvore.
Os exemplos acima servem para expor a íntima relação entre os problemas ambientais e a sufocante sociedade de consumo (individualista e ao mesmo tempo alienadora) vigente atualmente.
Sandro reforça que é necessária a diversidade na discussão do problema: segundo ele, a pluralidade de opiniões e habilidades que vigora em um coletivo, por exemplo, é extremamente positiva. Isto porque raramente as diferentes áreas do conhecimento se unem em direção a um objetivo comum. Esse problema pode-se estender até a vida escolar: lá, pouco se explica sobre como as diferentes disciplinas se interagem, e menos ainda se pergunta sobre a opinião dos alunos com relação ao que aprendem, ou sobre quais sentimentos são despertados pelo conteúdo da aula. Iniciativas, de maneira geral, não se tomam apenas com conhecimento: a ele devem-se somar a emoção e a opinião, as quais não são incentivadas em nosso sistema de ensino. A bela combinação de conhecimento, emoção e opinião acontece pouco porque, além de toda essa situação (e também por causa dela), a educação ambiental como disciplina escolar e como campanha mundial atual é tratada de forma segmentada e superficial: reciclagem, coleta seletiva, repor emissões de carbono, gerar os próprios recursos.
São boas iniciativas, mas não bastam, porque não alteram a ordem vigente. Sandro mencionou uma charge norte-americana em que um mendigo revirava uma pilha de lixo à procura de comida, e um homem bem-vestido aparecia e retirava dele uma espiga de milho, para usar no carro. O milho é um alimento utilizado para produzir etanol, nos EUA, em nome da sustentabilidade. Mais uma vez aparecem as conexões entre o social e o ambiental.
Em certo momento, houve a seguinte pergunta: de que maneira pode haver um equilíbrio entre o progresso e a sustentabilidade?
A resposta contempla o significado atual da palavra “progresso”: ela tem uma conotação puramente materialista, industrial – a exploração capitalista com o único intuito de produzir riqueza. “Progresso”, nesta acepção datada do início do século XX, é a fábrica que chega à cidade do interior, é o crescimento do número de pessoas com automóveis, tudo isso sendo comemorado como sendo grandes conquistas. Se esse continuar sendo o significado do termo “progresso”, o equilíbrio nunca será alcançado.