No dia 7 de abril de 2011, foi a vez do samba dominar o espaço do Encarte Musical– evento mensal realizado por Rodrigo Lee e a Cia. Bella de Artes, com o objetivo de dar espaço aos artistas que desenvolvem trabalho autoral.
Em três anos de evento, talvez tenha sido o dia mais brasileiro de todos, com a apresentação do músico Nego Moura, ou Bob, ou Alisson Viera pra quem gosta de formalidade. Em 20 anos dedicados a música, foi a primeira vez que o malandro subiu no palco pra tocar somente músicas próprias, e a emoção era visível nos sorrisos, caras e bocas. Ele mostrou que mineiro também faz samba, e faz muito bem.
Tente entender: o protagonista de toda essa festa foi acompanhado por um trio que dispensa comentários, os Criolos Brancos – formado pelos integrantes da banda 2º DP. Foi uma verdadeira overdose [de você], de arranjos feitos com total carinho e profissionalismo, como todos puderam acompanhar. O show mal tinha começado e o teatro parecia estar prestes a desabar com tanto peso. E sabe o que eu pensei naquela hora? “Tomara que caia! Morrer ouvindo samba é digno de um bom brasileiro.”
Sai a banda e fica só Nego Moura no palco. Em voz e violão ele disse: “Eu sou assim, minhas músicas nascem assim.”
Visivelmente seguro, parecia estar sozinho numa casa sem janelas, tocando só pra ele. Esse era o momento perfeito para dividir o palco com amigos, e o moleque fez bem em escolher ninguém menos do que a dona de uma das mais belas vozes da cidade: Nathalia Diniz, cantando e encantando como sempre. Nego é fã declarado do trabalho da cantora, que demonstrou sua reciprocidade publicamente.
Em sete de abril, o anfitrião mostrou uma música, que leva a data como nome, composta no dia 7 de outubro (dia do compositor), junto com o seu parceiro Léo Domingues, que canta de uma maneira bem peculiar e sabe trabalhar as palavras como poucos em suas composições, com muita poesia e uma linguagem única.
Permanece no palco Léo Domingues junto com Nego e volta os Criolos Brancos, além de um belo naipe de sopro composto por Marina Ulian, flautista da Poesia Concertante; e Luiz Prata, trompetista e tecladista da banda Pão e Circo, que está em processo de produção de seu primeiro trabalho, gravado em home studio. Esse foi o momento do show em que a plateia ficou de queixo caído, abismados com a qualidade do que estavam assistindo. Um grupo gigante de pessoas com um entrosamento de dar inveja a qualquer banda com anos e anos de estrada.
Um detalhe: não houve ensaio da banda com o naipe de sopros, mas tudo saiu como se tivessem ensaiado muitas vezes.
Passarela cheia de músicos, competência e profissionalismo indiscutíveis… chegava ao fim o show de um grande representante da música poçoscaldense, que mostrou que o samba de mineiro é tão bom quanto o que sai dos morros da cidade maravilhosa. E não adianta: de chinelo e bermudinha ou de terno, brasileiro que se preza gosta de samba.
Pra finalizar, um recado direto: Nego Moura, depois do que eu vi em cima do palco daquele aconchegante teatro, posso afirmar com certeza e convicção que, em Poços de Caldas, o samba sem você não acontece de forma tão digna e pura.
Se você não foi, perdeu mais uma oportunidade de ser mais rico, culturalmente falando. Perdeu a chance de ver que a coletividade faz as coisas serem muito mais fáceis. Sim, obviamente o Corrente Cultural esteve presente tuitando, transmitindo, fotografando e acreditando na arte poçoscaldense.
Veja a cobertura fotográfica que o Corrente Cultural preparou no Picasa.