Na quarta e última noite do festival Grito Rock Poços de Caldas, o gran finale ficou a cargo das bandas K2 (Poços de Caldas-MG), Veja Luz (Taboão da Serra-SP) e Kruelty (Poços de Caldas-MG) que cumpriram em fazer um dos melhores shows para quem aproveitou o carnaval com muita música independente.
K2
Em uma das mais inspiradas noites de sua consistente trajetória de mais de 15 anos, a banda K2 abriu na terça de Carnaval a última noite do Grito Rock 2015 com casa lotada e público efervescente. Foi com”A lei do som” – um groove exaltação à música autoral – que a K2 iniciou os trabalhos, deixando claro de cara seu compromisso com a música independente e com aquele público que ali lotava e se esbaldava no New York Pub desde o primeiro dia de Carnaval.
O tom de protesto e critica social, que sempre permeou o som da banda desde o primeiro álbum, conduz a pauta do show, contemplando desde clássicos como”Mudanças” – cantada em êxtase pelo público – mas especialmente as faixas do último álbum”Brasileiro Alma Grande”.”A cidade”,”Riffinré” e a homônima “Brasileiro Alma Grande”, entre outras, além da sua temática crítica, guardam uma sofisticação rítmica e melódica e arranjos impecáveis, por vezes tortos e quebrados, que impressionam inclusive e especialmente os mais críticos dos músicos.
Com uma mistura de elementos e referências diversas, do samba ao hip hop, do funk-soul ao metal, não faltaram ao show inserções de claras influências da banda como “Dura na Queda” de Chico Buarque e “As Rosas não falam” de Cartola, ambas cantadas em massa em meio a um dos maiores hits da banda “Menina doida”. Ainda rolou trechinho de “Get up stand up”, de Bob Marley, sem falar da participação especial de MB2 Uclanos, parceiro antigo da banda, no rap “S.P.R!”, faixa do álbum Locomotiva da banda K2.
Generoso, Pedrinho, guitarrista e vocalista, fez questão de reverenciar as outras bandas independentes, improvisando versos da banda Veja Luz – a próxima a subir no palco naquela noite – e fazendo referência também à Kruelty, banda local escalada para fechar o Grito Rock Poços de Caldas.
Já com o público indo ao delírio, a K2 presenteou a todos fechando o show intenso e energético com “Locomotiva” e uma inserção de “Killing in the name”, de Rage Against the Machine, uma das maiores e mais claras referências da banda, que fez a pista do New York Pub ir abaixo com o público pulando e cantando numa sintonia única.
Quem assiste um sólido projeto artístico como este da K2 sai com a certeza de que a música e o rock brasileiro estão muito além do que a mídia e sua triagem econômica e simplista – do que chega e não chega ao grande público – tenta controlar e impor. E é disso que se trata a K2 e o Grito Rock: um verdadeiro culto à música e à pluralidade de ideias, espaços e públicos, coerente com uma visão mais justa e complexa de sociedade e de vida. Viva a música autoral independente!
Veja Luz
E foi na última noite de Grito Rock que chegou a hora que a nação reggaera tanto esperava. Veja Luz, de Taboão da Serra/SP, subiu ao palco do New York Pub e mostrou seu reggae com influências de ritmos afros, soul music, jazz, blues, R&B, hip hop e ragga. O som agradou o público, já familiarizado com as apresentações no festival #VaiSuldeMinas e na Noite Fora do Eixo.
“O clima do show estava maravilhoso e como não é nossa primeira vez em Poços de Caldas foi muito massa, porque no final do ano passado a gente teve a oportunidade de tocar no New York, junto com a galera da K2 que trouxe a gente aqui. Tocamos aqui no festival #VaiSuldeMinas há dois anos e no show desse Grito Rock a gente teve a confirmação que este trabalho de base é fundamental, porque muita gente que foi ao show, nós já tínhamos visto no outro show também. Então, foi uma consequência do trabalho, da galera ter aceitado bem o som da banda”, exalta o guitarrista Fernando, que diz que a banda está aproveitando o Grito Rock para circular.
“Nós estamos aproveitando o Grito Rock para fazer uma circulação bem massa. Passamos por Sertãozinho, Poços… No mês que vêm temos mais circulação para fazer em Minas Gerais. Antes disso estaremos em São Paulo pensando no processo de gravação do novo clipe que a gente vai fazer, a gravação do novo disco que a gente quer começar a gravar esse ano e se tudo der certo lançar até o final do ano ou no começo do ano que vem. Esse processo de gravação de banda independente é bem complicado, dependemos muito da verba que a gente vai custeando através dos shows que vamos fazendo, mas isso é fundamental para nosso trabalho ser cada vez mais completo”, finaliza o músico.
Kruelty
Estrategicamente escalada para fechar a 6ª edição do festival Grito Rock Poços de Caldas, repetindo a façanha do ano anterior, a Kruelty subiu ao palco para gritar como ninguém ainda havia feito no festival. O quarteto poços-caldense de death/trash revelou-se ainda mais experiente mostrando um trabalho de responsabilidade bem definida, sem perder a organicidade de um show que requer energia e entrega total ao público.
Guilherme Henrique no baixo e voz, soa como uma motosserra entoando melodias distorcidas e brutalmente vocalizadas como se pede o gênero. Acompanhado de cada lado pelo duo de guitarristas Fernando Mamute e Tiago Borssato, o pequeno Guilherme crescia ao passo que sua voz se findava às marteladas de Pedro Anunciação, na bateria.
Falar do show do Kruelty é quase spoiler, o tempo todo tudo é surpresa, as afinações, cadências, a performance dos integrantes. Todo o conjunto de músicas e andanças sonoras no palco parece caminhar pra frente, e somente pra frente, sem que nada pareça inédito ou já percebido. Não há como chegar ao final e não pedir “mais um” em coro na frente ao palco, no que a banda certamente vai lhe responder com ainda mais entusiasmo. Um gran finale e tanto para um festival de quatro dias, 12 bandas e muita gente.
A 6ª edição do Grito Rock Poços de Caldas se despede do carnaval e de todos os foliões que encheram o New York Pub de energia, de felicidades e de sonhos que acabamos realizado ali mesmo – música circulando, pessoas se conhecendo, a arte se renovando e um ano de muitas promessas se concretizando. 2015 é o ano das sextas edições para o Corrente Cultural, onde cada festival ganha uma importância e um significado ainda maior chegando a seis anos consecutivos de realização. Vai ser foda.