Corrente Mostra 2011 – #04


Foto: Thais Helena

Foto: Thais Helena

O Uclanos abriu a primeira noite de shows do Corrente Mostra dentro do Espaço Cultural da Urca. O grupo que mistura rap e soul a beats de pickup – por vezes ainda com a presença de guitarra, baixo e bateria – lançou oficialmente o seu primeiro CD, intitulado “PelosCanto”. E escolheu o Corrente Mostra e o palco do teatro da Urca para mostrar que o Hip-Hop dos treze anos de carreira do trio, continua sendo vivido, apreciado e exaltado por Luafri, dona de vocais melódicos invejadíssimos, MB2, grave, a potência bass da poesia, e Suburbano, conciso, rápido, direto, rapper educado e desafiador ao mesmo tempo. Nos discos da pickup, DJ Mancha deu o ar da graça durante todo o espetáculo. Na guitarra, o suíngue de Pedrinho, aliado ao fino groove do baixo de Diego Ávila e a pegada perfeita de Luis Toledo Batata.

O show ainda foi marcado pela presença de amigos do grupo, requisitados o tempo todo ao palco. Foi assim quando Mário, parceiro de longa data do Uclanos, executou talentosamente passos de dança de rua no meio do palco do teatro, e na presença do rapper LeoPac cantando duas das canções.

No final do show uma emoção forte: vários artistas da cena do Hip Hop poçoscaldense no palco do Uclanos, cantando e dando viva a esse grupo, que chegou de vez e faz desta a sua hora.

Direto da capital mineira, o Festenkois veio pra Poços de Caldas mostrar porque a música deles é tão querida aqui. O quarteto que já participou da Noite FdE, também de organização do Corrente Cultural, chegou ao palco do festival munido de muita articulação política – a banda teve parte de seus gastos custeados pelo edital de circulação do Programa Música Minas.

Patrícia Yegos, Rafael Dantas, Rafael Menezi e Luiz Ramos se entrelaçam entre humbuckers e captadores singles, delays, baixo a palhetadas, bateria alucinante e vocais alucinógenos. É assim,  no visceral e no psicodélico que alguns tentaram se agarrar para dar nome a energia que embalou todo o teatro, em climas ora sutis ora de pertubação, de êxtase e de melancolia. A banda tocou canções do seu disco homônimo, que conta com “letras em inglês que mesclam andamentos variados, dissonâncias e dinâmicas inusitadas”, segundo os próprios. No palco, o papo se resume a uma certeza: queremos Festenkois aqui sempre.

O show acabou de forma triunfante – sob os pratos da bateria de Luiz Ramos ecoava as palmas de toda a banda, público e organização. E então Ramos abafou pratos, bateria e coração; só sobrou o delírio da plateia.

A última banda do quarto dia de Corrente Mostra foi ao extremo. Com apresentação de Pedrinho, organizador do Corrente Cultural, vigorando a garra e conquistas dessa banda que optou pelo trabalho autoral pautado no Trash Metal em meio a uma cidade onde (quase) todos preferem ganhar seus trocos tocando covers no violão em barzinhos, a banda Souls For Sale subiu ao palco. Palco este de um teatro, municipal, onde grandes já se apresentaram outrora na música clássica, em peças e musicais rebuscados de entradas pagas apenas pela minoria. E foi diante desse palco, agora democrático como deve ser, e totalmente escuro como o clima propusera, que o público recebeu a última banda da noite – talvez a mais esperada delas.

O Souls For Sale começou suas atividades em 2007, e dois anos depois já lançava seu primeiro disco “Beyond The Walls” gravado de forma independente no estúdio “Atthena’s”. O CD carrega 7 músicas de muito peso e vocais rasgados no timbre grave do vocalista Aldo, que fizeram o público logo se levantar das poltronas e vir ficar na boca do palco.

A banda tocou algumas canções já bastante conhecidas entre os fãs, como a sombria Scars, Beyond The Walls – faixa que dá título ao CD -, a pesadíssimaScreaming e outras duas ainda inéditas que comporão o novo trabalho, previsto para ser lançado ainda este ano.

Ao final da apresentação, despedida. Nada feito. Volta Souls For Sale para tocar mais uma música e atender ao público que queria mais mosh do palco do teatro (!).

O 4º dia de festival foi transmitido #AOVIVO, via twitcam, contando com a internet pública da Biblioteca Municipal, que fica ao lado do ambiente das apresentações.

No intervalo de cada show, pausa para conversas lá fora, compras na banquinha e apreço pelo trabalho dos escritores da Fora do Eixo Letras expostos no Varal Arte. Sublimes palavras, de São Paulo a Porto Alegre, sem esquecer os próprios poçoscaldenses, mineiros orgulhosos, em Varal que tornou forma de mural em três painéis estrategicamente alocados na porta de entrada do teatro. Palavras que exalavam poesia em uma noite que foi do Hip Hop ao Metal Extremo em apenas algumas horas; transversalidade.

E essa é a proposta do Corrente Mostra, arte por todos os cantos, a toda hora, para todos os gostos, misturando e fomentando o que já é misturado e nem tanto fomentado – a nossa cultura.