Corrente entrevista: Crys Marques, poeta do OrFEL


Foto: Sandra Ribeiro

Foto: Sandra Ribeiro

Em fevereiro, a FEL – Fora do Eixo Letras – lançou seu primeiro fanzine, OrFEL, uma publicação que contém poesia e prosa de diversos escritores ligados ou não ao Circuito Fora do Eixo. O trabalho, que contém representantes de todas as regiões do país, circulou por quase todos os pontos onde aconteceu o Festival Grito Rock América Latina, além de também ficar disponível em pdf, na sua versão on line, com a licença do Creative Commons.

No total, foram mais de 100 trabalhos inscritos para o fanzine, que reúne 14 autores selecionados por uma curadoria formada pela FEL e pelo Núcleo de Poéticas Visuais.
Um dos trabalhos selecionados para compor esta primeira edição do zine – OrFEL #00 – foi o poema “Nós” de Crys Marques.

Crys é poeta, tem 20 anos e reside aqui em Poços de Caldas, de onde mantém o Singular, seu blog de conteúdo autoral. A estudante de Arquitetura e Urbanismo já participou do Varal da Arte, exposição do Corrente Cultural que leva à Noite Independente escritos e artes visuais como fotos e desenhos. Em entrevista, ela conta de sua poesia e do OrFEL.

Quando e como veio a publicar os primeiros escritos em um blog?

Crys M.: A primeira postagem do Singular é de janeiro de 2009, mas os escritos são de bem antes. Não me lembro ao certo como veio a idéia de criar o blog, talvez fosse da necessidade de amadurecer através de opiniões diferentes e pontos de vista que não fossem meus. A gente sente que isso realmente faz diferença, quando somos nós quem precisamos de “assistência”, já que não existe poesia se não houver leitor.

O que Crys Marques costuma ler?

Crys M.: Confesso que leio pouco, mas leio de tudo. Além de perambular pelos obscuros do Google, procurando o que há de novo em blog alheio, gosto da espiritualidade de Cecília Meireles; da pitada de ironia de Carlos Drummond de Andrade em prosa e poesia; da genialidade de Ferreira Gullar que ainda consegue inovar; da sinestesia de Manuel de Barros; Fernando Pessoa e seus heterônimos; da literatura americana da geração beat, a famosa “geração maldita” etc. Gosto também de letras de música (boa) que não são tão simples de se fazer quanto a maioria pensa, visto que se faz de maneira diferente (e não inferior) a da poesia.

Você já participou de exposições coletivas, como o Varal da Arte. Como foi participar de uma exposição cultural de produção coletiva?

Crys M.: O Corrente Cultural tem feito o trabalho cultural mais bonito que a cidade já teve e caminha simplesmente pela vontade de fazer e mostrar arte. O varal da Noite Independente consegue aliar o poder que a música tem de conseguir cativar o público com mais facilidade à peculiaridade da fotografia e dos escritos lá expostos. A sensação de ver alguém lendo por livre e espontânea vontade o que você escreveu é boa demais! É diferente, por exemplo, da sensação de saber que alguém lê seu blog e gosta muito, eu diria que é até melhor! Sempre houve repercussão quando o Singular, e com certeza com os outros trabalhos também, esteve no Varal de Arte e o legal é isso, o clima cordial da NI ajuda a boa recepção de novas idéias e trabalhos pelo público que já vai de cabeça mais aberta. É um contato direto e efeito imediato.

Crys Marques e o OrFEL #00 – como é ter em mãos uma publicação livre, de distribuição nacional, contendo um poema de sua autoria – “Nós”?

Crys M.: É muito bom! Foram 100 trabalhos inscritos e 14 selecionados para circular junto ao Grito Rock pelos 130 pontos onde acontece o festival. E lá estava eu e o Renan Moreira representando o Corrente. É o eco da nossa persistência. Eu não costumo divulgar tanto o blog justamente por isso, prefiro saber que os acessos são de leitores interessados, a ter N acessos de não-leitores vencidos pela insistência. Entre poemas e ilustrações, o OrFEL na sua primeira edição deixa claro esse bom gosto e eficácia quando se diz respeito a divulgação dos trabalhos e é muito poder fazer parte disso!

O OrFEL hoje circula por dezena de estados, incluindo as regiões Norte e Nordeste. Como é imaginar ter um leitor de seu poema em cidades tão longes, de realidades tão distintas?

Crys M.: Eu li os outros poemas pensando nisso mesmo: “Ca#$%*+, é longe demais!” rs. É uma das poucas maneiras do leitor daqui ter o poema em mãos e não só pela internet e um ótimo primeiro contato para quem mora a milhas e milhas daqui. É bom saber que a distância e as diferentes realidades não interferem em muita coisa, a arte é onipresente, ela é quem leva a gente.

O número de coletivos culturais e redes de coletivos está cada vez maior em nosso país. Isso ajuda no fomento da produção artística?

Crys M.: Essa onda de coletivos não só promove o desenvolvimento como também desenvolve e incentiva novos artistas e isso é essencial para quem faz e para quem aprecia a arte. O crescimento mútuo é mais forte, quanto mais exigente o ouvinte, por exemplo, melhor terá de ser a música. Portanto quanto mais os coletivos culturais crescerem com qualidade, maior será a cobrança por isso por parte do público.

O que você espera encontrar nas próximas edições do ainda recém-nascido OrFEL?

Crys M.: Espero e tenho certeza que vou encontrar criatividade e bom gosto como na #00! O zine é muito incentivador, ficou simples e chamativo ao mesmo tempo. Vida longa ao OrFEL! =D
Leia aqui a versão online da primeira edição do OrFEL.

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A obra OrFEL de Fora do Eixo Letras foi licenciada com uma Licença Creative Commons – Atribuição – Proibição de Obras Derivadas 3.0 Não Adaptada.