As Bahias e a Cozinha Mineira: mais que um show, um ato político


Por: João Paulo ‘Fubá’

 

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Dia do esperado lançamento do primeiro álbum “Mulher” da banda As Bahias e a Cozinha Mineira, com casa lotada e ansiosa para o que viria. Afinal de contas, a banda, que já passara algumas vezes pela cidade – e que possui em sua composição o poços-caldense Rafael Acerbi, guitarrista e co-criador da banda, além de produção do músico Deivid Santos – em pouco tempo ascendeu para uma posição relevante no cenário brasileiro, já tendo sido objeto de matéria da revista Rolling Stone e da Billboard, antes mesmo do primeiro álbum surgir oficialmente.

Com influências maciças do que há de mais relevante na música brasileira – o samba, a bossa, o tropicalismo, o baião, o maracatu e o axé – a banda abriu a noite com seu primeiro single “Apologia às Virgens Mães”, música de quase 8 minutos que inicia de um blues à la brasileira e desemboca num excepcional samba cadenciado e dançante. O single é uma verdadeira homenagem, sem eira nem beira, à santidade de todas as mulheres, castas ou não.

Aliás, é esta a temática fundamental e provocadora da banda em seu primeiro álbum “Mulher”, que se exterioriza no show: a discussão sobre todas as formas de preconceito e intolerância – o machismo, a misoginia, a homofobia, o racismo e qualquer tipo de intolerância de cunho étnico, religioso, social ou sexual. E tal temática, tão atual e importante nos tempos de Eduardo Cunha, não poderia ser melhor expressada e combatida por duas vocalistas transexuais.

 

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Assucena Assucena e Raquel Virgínia literalmente brilham no palco, com suas vozes exuberantes que bem lembram, ao mesmo tempo, os timbres das maiores divas da soul music mundial, como Amy Winehouse, e a delicadeza forte e precisa de divas brasileiras como Gal Costa, Elis Regina e Elza Soares.  São vozes de quem possivelmente já sentiu na pele as mazelas de uma sociedade hipócrita e preconceituosa e que, agora em forma de música brasileira do melhor nível, voltam a esta mesma sociedade com um suave tapa na cara, um grito doce de “acorda”, um chamamento ao amor em todas suas possíveis formas.

Harmonica e melodicamente, o álbum Mulher e o show de lançamento das Bahias e a Cozinha Mineira apresentam preciosidades genuinamente brasucas: tem os lindos sambas de “Fumaça” e “Ó Lua”, os axés de “Josefa Maria” e “Mãe menininha do gantois”, o forró de “Esperança Cafundó” e o baião de “Comida Forte”, entre outras variedades.

Com arranjos delicados que exploram o seio da MPB e letras que divagam pelo tradicional e o moderno, “Mulher” é uma grande homenagem a todas as classes oprimidas e, mais que isso, uma apologia à música brasileira no que há de seu melhor. Certamente um dos melhores lançamentos de música brasileira de 2015. Não por menos, seu lançamento foi uma noite histórica em Poços de Caldas, um encontro do público com a boa música, autoral e independente.

 

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Formação:

Raquel Virgínia – vocais
Assucena Assucena – vocais
Carlos Eduardo Samuel – piano/teclado
Rafae Acerbi – guitarra
Vitor Coimbra – bateria
Rob Ashtoffen – baixo elétrico

Produção Musical: Deivid Santos