FEL lança segunda edição de fanzine com participação de escritor do sul de MG


Estão disponíveis as versões para leitura e impressão/xerox da segunda edição do OrFEL, o fanzine da Fora do Eixo Letras. No total, 11 autores representam todas as regiões do país com contos e crônicas selecionados por uma curadoria que contou com integrantes da FEL de diferentes estados brasileiros.

Assim como a curadoria, ilustração e diagramação também foram produzidas colaborativamente, com o apoio do Núcleo de Poéticas Visuais do FdE. A versão para impressão pode ser baixada neste link do archive.org. Ela possui adaptações para cópias em p/b e dá início à passagem das publicações da FEL para programas de Software Livre. Entre os artistas visuais Lara Marx e Léo Zaneti, membros do Corrente Cultural, compartilham a ilustração da página 8.

Entre os autores contemplados nessa edição, o poeta bruno nobru de Pouso Alegre-MG, indicação do Corrente Cultural à curadoria do OrFEL. O escritor já tem um longo caminho trilhado nas letras com publicações independentes, acha que é dever da juventude fomentar a contracultura e não tem o hábito de ler poesias. Mantendo os caracteres na forma íntegra e a pontuação pautada na licença poética, conheça bruno nobru em estrevista via email ao Corrente Cultural:
– Uma breve auto-biografia:

bruno nobru - Divulgação

bruno nobru – Divulgação

sou nascido em São Paulo, faço música desde 1998, hoje moro em Pouso Alegre (sul de Minas Gerais).. comecei a escrever depois de uma viagem que fiz num momento comigo mesmo em 2006, onde fiquei morando seis meses em Pocinhos do Rio Verde-MG, larguei mão do violão e fiquei só com o básico, neste básico tinha papel e caneta e comecei a escrever o que saiu de vivências, sem grande elaboração ou preocupação estética..
depois disso fiz alguns livretos xerocados em pb e saía distribuindo, alguns vendendo por preço de custo outros dando para amigos e conhecidos, em bares, viagens, etc. até que reuni alguns dos trechos num livro que foi publicado com apoio da lei municipal de incentivo a cultura de Pouso Alegre em 2008, chamado “tre-chos”..
todos os livretos que escrevi estão disponíveis no endereço www.brunonobru.net para download gratuito em formato .pdf

– Quais são suas influências artísticas e quais as inspirações para seu trabalho?

não encaro a arte como um trabalho pois penso que essa concepção é fruto de uma industrialização cultural que sofremos enquanto sociedade de consumo.. prefiro encarar a arte como fruto de vivências e relações dos seres humanos..
sobre as influências, não sei se o que escrevo tem influência de algum artistas em específico pois não tenho o costume de ler poesia, são poucos que gosto, e o que escrevo sai sem muito se ligar a um artista ou a um movimento, prefiro criar arte livre de parâmetros estéticos, acho que o único parâmetro que uso é a mim mesmo e minhas vivências.. posso citar alguns artistas que admiro como Itamar Assumpção, Paulo Leminski, Tom Zé, Egberto Gismonti..

– Como o Sul de Minas se insere na sua poesia e como sua poesia se insere no cenário sulmineiro, de Pouso Alegre e de toda região?

como o que escrevo é fruto das vivências que tenho e tenho morado no sul de minas há quase oito anos, acabo incluindo referências e relações da minha subjetividade paulistana com este espaço.. comentando geralmente do cotidiano: “bilharzin”, “cafezin”, “cagar no mato”, “queijo mineiro”, enfim.. escrevo muito da vida de um modo geral, das relações, das sensações, interpretações, etc..

– Qual a importância em acreditar na literatura independente, como leitor e como escritor?

acredito que a literatura independente é a realidade, é o que acontece fora da arte que é maquiada e produzida para um nicho de mercado.. a grande diferença é que existem artistas que estão se adaptando aos padrões de mercado para ter visibilidade e vender sua produção, enquanto que a arte independente se interessa muito mais em inserir sem negar sua identidade própria, mostrando sua cara.. gosto muito de ler artistas desconhecidos, o que me interessa não é se o artista é conhecido, me interessa se ele é bom para o meu gosto, sempre que posso acompanho blogs e encontro muita coisa boa, um cara que tenho acompanhado tempos pra cá é o Eduardo Marinho, o cara é bom pacas vale a pena conhecer o blog dele é observareabsorver.blogspot.com..

– O Corrente Cultural te indicou e dentre inscritos de todo o país você foi um dos 11 autores selecionados para a segunda edição do fanzine OrFEL. Essa participação direta ou indireta com a rede de coletivos FdE facilita a divulgação do seu trabalho?

poxa facilita e muito, acho isso ótimo! o fato de ter uma rede de coletivos que apóia e auxilia a circulação de arte independente é fundamental para a difusão da arte que não está aí para atender os desejos de uma sociedade de consumo, mas que é fruto de uma criação com anseios do povo para o povo, admiro muito o trabalho do Coletivo Corrente Cultural de Poços de Caldas, e fico muito contente quando posso contribuir de alguma maneira para que outros artistas possam ter circulação de sua arte também! acredito que são ações como essas que fazem a diferença na arte atualmente.

– Qual a importância de um zine como publicação impressa, livre de impostos e de circulação colaborativa? 

a colaboração é o que há, pois todos que fazem arte própria precisam de uma certa união, para facilitar a circulação e melhorar a visibilidade num espaço desleal onde pseudo-artistas são valorizados pela mídia ou por uma parcela pseudo-cult, enquanto muitos outros são simplesmente ejetados do sistema por não seguirem os padrões ou por não se prostituírem.. zines têm sido usados para transmitir uma cultura que está fora dos padrões, e a juventude tem o dever de fomentar a contracultura, de discutir e colocar a prova os valores decadentes de uma sociedade em crise, que, independente da arte também tem sua função de gerar reflexão e proporcionar mudança social.

– Como é a produção da cena literária do espaço onde você vive, física e virtualmente falando? Aposta em um fomento cada vez maior?

Pouso Alegre é uma cidade muito misturada, tem gente que nasceu aqui e sempre morou aqui e tem muita gente que veio de fora, principalmente de São Paulo.. não há uma identidade cultural de um povo que se possa ser observada claramente, e a arte é muito mais influenciada por São Paulo (capital) do que pelo próprio interior de minas, há muitos músicos, uma boa quantidade de artistas plásticos, mas poucos escritores, mas acredito que isso estará sempre melhorando, na verdade não sei exatamente se melhora, mas prefiro acreditar que sim, acho confortavel pensar assim. acredito que as ações em grupos coletivos ou mesmo independentes estão sempre mudando a realidade que vivemos, o que não se pode é ficar aí parado, precisamos criar arte e agir para mostrar a arte que criamos e mudar a realidade para a condição que queremos, como dizia o velho Raul (Seixas), “vamos escolher bem melhores condições”..